O câncer de rim representa 3% de todos os tipos de câncer pelo mundo, com 431.288 novos casos diagnosticados ao ano. É o 7o mais comum entre homens e o 10o entre mulheres. Em 2022 foi responsável por aproximadamente 180.000 mortes pelo mundo. Homens apresentam uma discreta maior incidência de câncer nos rins que mulheres (relação de 1,5:1) e o seu pico de incidência está entre 60 - 70 anos. Os principais fatores de risco para câncer no rim são o tabagismo, obesidade, hipertensão e síndrome metabólica. Dados marcantes mostram que 50% dos pacientes diagnosticados com câncer de rim são fumantes ou ex-fumantes. Parentes de primeiro grau também conferem um risco maior para o desenvolvimento de tumor no rim, visto o componente genético existente.
Os fatores de prevenção mais conhecidos para neoplasia renal são controle da obesidade, atividade física, adequação de hábitos alimentares e cessação do tabagismo. Quanto aos tipos histológicos de câncer nos rins, aproximadamente 70 - 80% são carcinomas de células claras, 10 - 15% carcinomas papilares, 3 - 5% subtipo cromófobo e 2% outros subtipos mais raros.
Com o desenvolvimento dos métodos de imagem e sua ampla aplicação em diversas áreas médicas, a incidência de lesão e nódulo no rim tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos. Estudos mostram que atualmente 60% dos nódulos nos rins são diagnosticados incidentalmente, isto é, o paciente realiza o exame por algum motivo não relacionado à investigação de câncer de rim e acaba identificando uma lesão suspeita.
Nódulo Renal
No entanto, apesar desses dados, cabe ressaltar que muitos dos achados de imagem não necessariamente se tratam de neoplasia renal, podendo ser lesões benignas (como cistos simples, angiomiolipomas, fibroma medular, entre outros) que de maneira geral não são passíveis de intervenção ou até mesmo não ser necessário acompanhamento subsequente.
Cisto simples em imagem de ultrassom
Sendo assim, visto sua baixa incidência na população global, atualmente ainda não há métodos para rastreio do câncer de rim preconizado para todos, apenas direcionado em casos selecionados para pacientes com alterações genéticas específicas ou doença renal crônica avançada.
Como informado anteriormente, a grande maioria dos casos de câncer no rim são achados incidentais em exames de imagem por outros motivos médicos, sendo 30% dos tumores no rim diagnosticados por apresentarem sintomas. A tríade clássica antes muito descrita para os sintomas de câncer no rim como dor lombar, sangramento visível na urina e massa abdominal palpável atualmente é rara (6-10% dos casos) e está mais associada a tumor no rim com comportamento agressivo.
O câncer no rim apresenta sintomas que podem ser associados a doenças metastáticas (fora do rim), como afecções pulmonares (tosse) e ósseos (dores ósseas, fraturas, compressão da medula espinhal, entre outros). A síndrome paraneoplásica consiste em uma série de sinais e sintomas decorrentes dos mediadores inflamatórios e hormonais produzidos pelo organismo quando acometido por determinado câncer. Elas podem estar presente em 3 em cada 10 dos casos de câncer de rim. Alguns de seus exemplos são hipertensão, hipercalcemia (aumento dos níveis do cálcio no sangue), febre, cushing, perda ponderal, neuromiopatia, etc.
Dor na lombar de origem renal
São necessários para a identificação de fatores prognósticos e planejamento terapêutico no câncer nos rins. Os exames mais comuns solicitados são a creatinina sérica, hemograma, urina tipo I, enzimas hepáticas (TGO/TGP), fosfatase alcalina, desidrogenase lática, cálcio sérico e coagulograma. Cada exame possui sua importância e são solicitados dependendo da gravidade da doença.
Exames de imagem como ultrassom (USG), tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RNM) são capazes de realizar o diagnóstico de câncer de rim, porém tanto a TC e a RNM de abdome e pelve oferecem recursos mais apropriados para a avaliação da extensão da doença (conhecido como estadiamento) e a tomada de conduta futura, comparado ao USG.
Informações fornecidas pela TC/RNM de abdome e pelve: |
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Extensão do tumor no rim; |
Envolvimento vascular; |
Aumento de gânglios regionais; |
Condição de órgãos adjacentes (como as glândulas adrenais); |
Morfologia e função do rim acometido e do rim contralateral; |
Tomografia de abdome e pelve do rim
Outros exames de imagem como a TC de tórax, RNM de crânio e o PET são utilizadas para complementar o estadiamento dependendo do grau de agressividade que o tumor no rim apresenta.
Paciente posiconado para fazer exame de imagem no rim
A biópsia percutânea na suspeita de câncer nos rins tem indicações específicas e casos muito selecionados, como quando há dúvidas do diagnóstico, em casos indicados para vigilância ativa dos nódulo nos rins (discutido mais a frente) e condução da terapia alvo mais apropriada em pacientes com doença metastática.
O tipo de tratamento para o câncer de rim pode ser dividido quando a doença é localizada (exclusivo ao rim), extenso comprometimento local ou já apresenta sinais de metástase (acometendo órgãos fora do rim).
Nos casos de doença localizada as condutas consistem em retirada apenas do tumor no rim com preservação da área saudável (nefrectomia parcial), necessidade de retirada total do rim (nefrectomia radical), técnicas ablativas (por punção percutânea) e a vigilância ativa. As técnicas cirúrgicas em câncer nos rins são as mais utilizadas, visto sua conhecida taxa de sucesso para controle oncológico e aplicação abrangente e eficaz nos diversos graus de tumor no rim.
A escolha entre a nefrectomia parcial e radical depende do tamanho, localização e extensão do tumor na cavidade abdominal, bem como as características do doente (como idade, comorbidades e performance funcional). As vias de acesso cirúrgico existentes são a aberta, videolaparoscópica e robótica. Apesar do desenvolvimento tecnológico, as cirurgias de acesso aberto hoje em dia são indicadas no tumor no rim mais complexo (como grande volume tumoral ou que acometem órgãos adjacentes específicos).
As cirurgias videolaparoscópicas e robóticas estão cada vez mais empregadas visto manterem o benefício do tratamento oncológico com o ganho funcional comparado a cirurgia aberta, com a vantagem do acesso à cavidade abdominal ser feito através de 4 a 5 incisões menores que 1 cm. A tecnologia empregada e o tipo de pinça cirúrgica conferem um menor trauma e ganhos na recuperação pós operatória do paciente. Estudos recentes mostram que a cirurgia robótica para câncer no rim, principalmente comparada a cirurgia aberta, traz menos complicações no intra e pós operatório, menor chance de transfusão, melhor controle da dor e menor tempo de internação em casos com indicação de nefrectomia parcial.
Cirurgião posicionado no console para cirurgia robótica
Braço do robô posicionado durante a cirurgia
Nefrectomia Parcial
Cicatrização dos acessos de incisões de cirurgia robótica
As técnicas ablativas são realizadas por meio de punção percutânea e levam ao tratamento do nódulo no rim por meio de radiofrequência, microondas ou crioterapia. São geralmente indicadas para lesões pequenas e bem selecionadas. O material utilizado para o procedimento ainda é pouco acessível e de custos elevados.
Por último, a vigilância ativa pode causar certa confusão por se tratar de um tipo de conduta onde nenhum tratamento efetivo é realizado. Dependendo de fatores de bom prognóstico do nódulo nos rins identificadas pelos exames e pelo padrão histológico analisados na biópsia, bem como idade e comorbidades do paciente, pode-se realizar o acompanhamento seriado com exames. Caso o padrão do tumor no rim se altere durante o acompanhamento, o tratamento cirúrgico pode ser necessário para controle da progressão.
Os principais focos de metástase do tumor no rim são pulmões, ossos, fígado, cérebro e gânglios linfáticos (locais e distantes do rim acometido). O tipo de tratamento depende da agressividade do tumor localmente e a distância (definido pelo estadiamento da doença), podendo ser uma associação de tratamento cirúrgico, radioterápico e/ou medicamentoso.
Atualmente as principais classes de medicações para tratamento sistêmico são os agentes chamados terapia alvo (atuam em regiões moleculares específicas que inibem o crescimento do tumor) e a imunoterapia (regulam o sistema imune humano para atuar contra as células cancerígenas) e vem revolucionando a qualidade de vida e progressão da doença. A nefrectomia citorredutora (principalmente em pacientes sintomáticos ou que apresentam boa performance) e a retirada de focos específicos de metástases) dependendo do volume da doença fora do rim) são alguns procedimentos cirúrgicos utilizados em conjunto a terapia sistemática na doença metastática.
A sobrevida do câncer de rim assim como o tratamento depende do estágio da doença bem como das condições de vida do próprio paciente. Mundialmente é utilizada a classificação TNM (Tumor, node, metastasis) e seus estágios e porcentagem de sobrevida são exemplificados a seguir:
Ao interpretar um exame médico o paciente pode encontrar informações pouco conhecidas e que invariavelmente causam angústia e ansiedade (como rim dilatado, hidronefrose, cistos, etc). Sendo assim, quando buscar o atendimento de um médico especialista em rins na vigência de alterações dos exames de imagem? É sempre importante lembrar que a maioria dos achados são de origem benigna e compete ao profissional médico que cuida do rim analisá-los junto ao paciente e identificar alterações que necessitem de tratamentos futuros.
Rim dilatado é um termo genérico utilizado para expressar um aumento do sistema coletor do rim geralmente por algum fator obstrutivo (tecnicamente conhecido como hidronefrose). Suas causas podem ser diversas e estão mais relacionados a causas benignas (como pedra no rim), porém em raros casos podem estar relacionado a câncer do trato urinário (como rins, bexiga, próstata, etc) e fora do trato urinário que causam efeito compressivo (gânglios adjacentes ao sistema urinário, tumores que comprimem a via urinária, etc).
Ultrassom com e sem hidronefrose (dilatação dos rins)
O Dr Romulo Nunes é médico graduado pela Faculdade de Medicina da USP, urologista formado pelo Hospital das Clínicas da USP, realizando durante sua residência estágios internacionais na Inglaterra (Guy`s Hospital) e Itália (Hospital San Raffaele), ano adicional no departamento de transplante renal do Hospital das Clínicas da USP, possui certificação em cirurgia robótica pela Sociedade Brasileira de Urologia e realizou Fellowship em cirurgia robótica e minimamente invasiva na Bélgica (OLV hospital / ORSI academy) no principal e um dos centros pioneiros de formação em cirurgia robótica da Europa.
Possui participação em congressos internacionais como ouvinte e discutidor. Atualmente participa de projetos de pós-graduação pela Universidade de São Paulo, é médico colaborador do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e é membro do corpo clínico dos principais hospitais de São Paulo.
Sugerimos realizar consulta caso esteja buscando sanar dúvidas quanto a achados de imagens dos rins, fatores de risco existentes para câncer de rim ou frente ao diagnóstico de neoplasia do rim para melhor orientação, seguimento e propostas de tratamento.
1) Silverman, S. G., Israel, G. M., Herts, B. R., & Richie, J. P. (2008). Management of the incidental renal mass. Radiology, 249(1), 16–31. https://doi.org/10.1148/radiol.2491070783
2) Capitanio, U., & Montorsi, F. (2016). Renal cancer. Lancet (London, England), 387(10021), 894–906. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00046-X
3) Ljungberg, B., Bensalah, K., Canfield, S., Dabestani, S., Hofmann, F., Hora, M., Kuczyk, M. A., Lam, T., Marconi, L., Merseburger, A. S., Mulders, P., Powles, T., Staehler, M., Volpe, A., & Bex, A. (2015). EAU guidelines on renal cell carcinoma: 2014 update. European urology, 67(5), 913–924. https://doi.org/10.1016/j.eururo.2015.01.005
4) Secretaria de atencao especializada a saude do governo. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/pcdt/arquivos/2022/portaria-conjunta-no-20-ddt-carcinoma-de-celulas-renais-1.pdf/
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